#140 Queria ser grande, mas desisti
Ilustração: Francesco Ciccolella
Análise. Está aí uma coisa que não imaginava fazer.
Não por não ter questões a resolver. Tenho várias, como todos, mas meu jeito de resolvê-las costuma ser outro. Pego um livro, vejo um filme. Até mesmo o sono me ajuda a encarar temas complicados. Já tive muitas revelações naquele momento em que estamos quase dormindo, mas uma parte do cérebro ainda está ligada, sabe?
Continuo recorrendo a esses mecanismos, apenas me rendi à curiosidade de anos. Como é uma sessão de terapia? Quais assuntos eu gostaria de abordar? Vou aprender mais sobre mim falando com um estranho?
Tantas perguntas caladas por vergonha e um punhado de medo do desconhecido. Chegar num encontro cara a cara cujo foco são minhas demandas emocionais me assustava BASTANTE.
Foi ao descobrir os estudos que conectam psicanálise e literatura que o bloqueio foi enfraquecendo. Ainda estou tateando o assunto, mas a ideia principal é a seguinte: os escritores capturam narrativas de sofrimento, de inquietação, de conflitos e dão forma a muitos sintomas passíveis de identificação, de interpretação. E esse pode ser um ponto de partida para analisar uma obra.Um campo bem bacana de pesquisa, cheio de textos interessantes - o que só fez crescer minha curiosidade em conhecer a dinâmica de uma sessão de análise.
A barreira que restava caiu a partir de um livro indicado por uma amiga querida. Talvez você deva conversar com alguém é um relato autobiográfico misturado com autoajuda. Lori Gottlieb conta como se tornou psicoterapeuta e como, depois de um término dolorido, precisou ocupar também o lugar de paciente. São episódios que iluminam o processo de sentar diante de alguém e falar de si. Esclarece também os caminhos que a mente percorre em busca de ajuda, ou quando quer se esconder das angústias mais profundas.
Juntei o livro com os estudos de leitura psicanalítica e saí em busca de alguém. Troquei mensagens e em pouco tempo consegui um nome. Mandei uma breve explicação dos meus motivos e dali uns dias fiz minha primeira sessão de análise. Foram quatro até agora.
Abordei questões que eu nem imaginava terem peso para mim. Acontece muito, né? A vida enterra tanta coisa e são raros os momentos de escavação. Na minha rotina, não há um período significativo para focar apenas em mim. Eu converso com amigos, mas é sempre uma troca, um exercício de escuta. E nos papos com meu marido sofro interrupções constantes do Joaquim. Então, fazer análise tem sido uma forma de reivindicar um espaço de fala, de validar o que se passa aqui dentro.
Para quem gosta de psicanálise, vale ouvir o podcast novo da Tati Bernardi: Meu inconsciente coletivo
E a Fabiane Secches acaba de lançar o novo ciclo do clube do livro de leitura e psicanálise ;)
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