#129 Queria ser grande, mas desisti
Neste último fim de semana fui engolida por Pessoas Normais, de Sally Rooney.
Comecei a ler devagar, achando que dali não sairia muita coisa além de dramas adolescentes, mas depois de algumas páginas lembrei que é apenas a impressão inicial que a escrita desta autora passa - a escolha de uma forma simples e aparentemente despretensiosa para no fim tratar de assuntos densos.
A história aqui é sobre o vínculo formado ao longo dos anos entre Marianne e Connell - da escola até a faculdade. Os dois têm em comum um sentimento de não pertencimento, ainda que em muitos momentos pareça que eles estão de bem com o ambiente que os cerca. O mundo interno de cada um está escondido para a maioria e eles encontram um no outro a oportunidade de desaguar certas estranhezas, inseguranças e ansiedades.
Falando assim até parece que a relação dos dois é como um descanso da loucura da vida, mas não é tão simples assim. Em várias situações, a dinâmica entre eles gera momentos de dor, quase sempre por problemas de comunicação. Ainda que exista muita confiança e carinho, não é tudo que eles expõem em palavras e algumas questões ficam pelo caminho, alguns desejos acabam sufocados.
E são nesses momentos que Pessoas Normais cresce, na minha opinião. Quando mostra as situações em que resolvemos guardar uma angústia, pensando que ela não será compreendida ou que ela não tem importância diante do restante, e como isso pode conduzir a nossa vida para lugares e pessoas que não nos fazem bem.
Acho que depois de dizer tudo isso está claro que gostei bastante do livro. Sei que não é uma opinião unânime, tem gente que não curte os temas e o estilo mais seco de Sally Rooney, mas eu curto. Os diálogos que ela cria são tão tão tão reais - considero uma aula para quem gosta de escrever. Além disso, adorei a forma como ela trabalha a linha do tempo nesta história: de vez em quando a narrativa pula alguns meses, mas logo depois aparecem pitadas do que se passou neste período que "perdemos". E tudo de uma maneira muito orgânica.
Se você não está empolgado em começar mais uma leitura, vale MUITO ver a série inspirada no livro. Boa parte do roteiro é uma produção fiel das conversas entre Connell e Marianne. E, nossa, os atores e a trilha sonora são bem bons. A série foi, inclusive, indicada a 4 Emmys.
Pessoas Normais foi uma das últimas leituras do curso de literatura contemporânea que eu venho fazendo e a aula foi uma delícia. Para quem tem interesse, em novembro começa a terceira edição com uma nova lista de obras - e está bem bacana, tanto que já me inscrevi ;)
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