#123 Queria ser grande, mas desisti
Ilustração: Caroline Frumento
Você já deve ter reparado que a maior parte dos links que venho recomendando de uns tempos para cá vem do Instagram. Vejo como um movimento normal, já que é uma das plataformas mais usadas no Brasil para produção de conteúdo.
A minha curadoria funciona assim: salvo IMEDIATAMENTE as coisas que mais me interessam, depois passo numa peneira e compartilho aqui o que tem de mais legal.
Reparou na ênfase que dei à palavra imediatamente? É que se não guardo aquele post ou vídeo no momento em que eu o encontrei… já era! Como achar aquilo de novo em meio a milhares de publicações? Vai na pesquisa, talvez você me responda. Bom, é aí que mora uma das partes mais chatas do Instagram: não dá para pesquisar um texto da mesma forma que no Google.
Ou você pesquisa por uma hashtag - tarefa impossível dependendo da popularidade da # - ou você tenta caçar no fundo da memória qual foi a @ que divulgou aquela reflexão tão bacana.
Não vou chamar isso de defeito porque acredito que seja intencional. A proposta do Instagram não é permitir vida longa às coisas que postamos. Ali é o reino do efêmero, dos stories que duram 24h. Você corre o feed, pára para ler uma coisa ou outra, no máximo compartilha com um amigo e tchau. Nunca mais vai ver aquilo de novo. A não ser que você, assim como eu, tenha a mania - e a teimosia - de salvar tudo.
Quando penso sobre isso me dá uma saudade absurda dos tempos áureos dos blogs. A ferramenta de busca quase sempre dava pau, mas agora me parece tão evoluída. Pesquisando para escrever esse texto, encontrei o antigo endereço que mantinha com uma amiga e ainda está tudo lá - acessível para quem fizer uma pesquisa no Google por algum dos termos que comentávamos.
Com o Instagram não tem isso. Se você escreve sobre maternidade, livros ou culinária, dificilmente alguém de fora da rede vai conseguir te encontrar puramente pelos textos que você publica. Para ser lido, você precisará da divulgação de amigos, do uso estratégico de algumas hashtags. Vai precisar também analisar o melhor momento para postar, ver se o que funciona é uma foto com a sua cara ou a de uma paisagem. E, atenção, se não produzir com constância, o alcance das publicações cai vertiginosamente.
Ufa! Quanta coisa para avaliar além do texto em si, não é mesmo? Deu preguiça só de contar. Por isso, me mantenho apegada ao formato da newsletter. Não preciso ficar acenando ao mundo que publiquei um texto novo - ele simplesmente chega na caixa de e-mail dos que realmente estão interessados. Você, aí do outro lado, é uma audiência especial.
Das sincronicidades da vida, recebi a newsletter da Luisa, a Doses de Tiquira, pouco depois de terminar o texto acima. E, nossa, indico muito a leitura. Ela fez um super apanhado de como as newsletters começaram aqui no Brasil e como elas também foram minguando. E conta também os motivos pelos quais ela ainda é uma das que continuam enviando cartas desta forma:
A newsletter tem um potencial de comunidade porque quem escreve tem seu público cativo, as pessoas que optaram por receber o texto via e-mail e que podem parar de receber a qualquer momento, tá tudo bem. É diferente de escrever numa postagem de blog e sentir que você está gritando pro vazio, que não sabe quem vai receber a mensagem no fim das contas — /estou tentando aqui não usar a imagem de uma mensagem em garrafa lançada ao mar, sem sucesso/. Também é diferente de publicar em qualquer plataforma que precise de divulgação para que as pessoas saibam que tem um texto novo por aí. Depois que eu mando um texto via TinyLetter, eu posso (e gosto de) largar o computador, me preocupar em limpar o mofo da parede e ficar tranquila em relação à cartinha porque, quem quiser, vai ler.
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Estou lendo Mrs Dalloway na edição especial da Antofágica e amando <3 Fui afastada desse livro por vários comentários de que a leitura poderia ser muito desafiadora por trazer bastante uma técnica chamada de fluxo da consciência. Mas vim aqui te dizer que o livro é uma delícia
E falando em Virginia Woolf, dá uma olhada nesta edição de As ondas que será publicada em breve - este, sim, é um livro que dizem ser bem desafiador MESMO, mas não deixaremos de tentar, não é mesmo?
Para quem, assim como eu, está se jogando mais nos clássicos, vale a pena checar esta promoção
Adorando os vídeos deste moço, um livreiro super descolado
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