#122 Queria ser grande, mas desisti
Ilustração: Irene Rinaldi
A otimização do tempo é um espécie de fetiche dos dias atuais. Pesquisamos como extrair mais das horas que passamos no trabalho. Caçamos ferramentas para reduzir os minutos gastos com a preparação da comida, com os afazeres domésticos.
E espalhamos esse modo de operar também para o nosso lazer. Como aproveitar ao máximo o tempo com os filhos? Como fazer o exercício ter mais efeito, mas com uma duração menor? Como ler mais livros em menos dias?
Dicas paras essas questões não faltam por aí. Talvez te sugiram baixar um aplicativo, fazer um curso rápido. Tudo para que nenhuma hora do dia passe em vão, para que se atinja 100% de aproveitamento, para que se renda como deveria.
Mas deveríamos mesmo? Tenho me convencido cada vez mais de que esse não é um bom negócio. Tanto por acreditar que momentos sem fazer nada são extremamente importantes, quanto por perceber que algumas coisas levam tempo - um tempo subjetivo, não aquele que estipulamos como o ideal.
Nos últimos dias vi muitas pessoas que admiro questionando o desejo, a necessidade de se ler cada vez mais livros e num tempo recorde. Para quem interessa essa conta? A correria traz algum benefício? As palavras deveriam ser simplesmente devoradas assim?
Por indicação da Gabi Barbosa, vi a palestra da Jacqueline Woodson, escritora e grande defensora de uma leitura lenta e mais atenta. A fala é toda muito bacana, mas quero destacar o ponto em que ela comenta sobre o tempo que cada autor leva para terminar uma obra - normalmente meses ou anos. Então, para Woodson (e eu assino embaixo), ler mais devagar e com intenção é também uma questão de respeito com o trabalho depositado naquelas palavras.
A trilogia de O senhor dos anéis, de Tolkien, por exemplo, levou 12 anos para ser escrita. Para Ulysses, de James Joyce, foram 7 anos.
Para que tanta pressa, então? Se não for para tirar uma reflexão das palavras lidas, qual o objetivo da leitura?
Adorei esta resenha da Tamy Ghannam para Sobre os ossos dos mortos, de Olga Tokarczuk - um dos melhores livros que li este ano
Na lista de desejos: os roteiros de Fleabag
As coisas que eu assisto para relaxar: receitas de crochê ¯\_(ツ)_/¯
Um vídeo maravilhoso para quem ama os gibis da Turma da Mônica
As mães e a falta de tempo para criar
As outras pessoas são tão reais quanto nós mesmos
Eu já passei por períodos de acne bem severa e acabei ficando com algumas cicatrizes no rosto, que eu detesto, para ser extremamente sincera. Mas esses dias esbarrei em várias imagens de meninas que também têm a pele marcada como eu e estão aí fazendo as pazes com isso. Esta foto me deu um abraço no coração <3
E termino com esta reflexão da Stephanie Noelle:
nunca fui tão confrontada com a imagem do meu próprio corpo. dada a ausência de outros tantos corpos coabitando o mesmo espaço, deslizando pela minha frente, esbarrando no metrô, dividindo a mesa do restaurante, andando pela mesma grande avenida num domingo ensolarado, resta este corpo, o meu.
Recebeu a cartinha da semana, mas ainda não assina a newsletter? É só se cadastrar aqui. Também dá pra ler as edições antigas <3 E se quiser me acompanhar: @babibomangelo