#113 Queria ser grande, mas desisti
Estamos no começo ou no meio da quarentena? Já não conto mais os dias porque não vejo utilidade em contar sem saber em qual número vamos parar. Vamos nessa até o fim de maio? Junho? Ou setembro mesmo, como alertou o Ministério da Saúde?
Posso não saber a duração, mas já sei o gosto que esses momentos terão. Em fases complicadas, eu me jogo de cabeça em alguma série, livro, filme ou música. Percebi esse padrão ao longo dos anos e agora não é diferente.
Meus escapes desta vez têm sido os filmes do Studio Ghibli e o livro Sobre os ossos dos mortos. Narrativas com uma aura de mistério e magia - perfeitas para deixar a realidade lá fora e a ansiedade mais controlada.
Para quem ainda não descobriu as melhores animações do mundo, o Studio Ghibli é o responsável por filmes como A viagem de Chihiro e Meu amigo Totoro. Esses dois são os mais famosos, mas tem muita coisa boa além deles - são 21 títulos no total. São contos que te pegam de um jeito beeeem profundo.
Estou vendo sempre que posso - o que significa que vejo pequenos trechos por dia, porque, né, estou com uma criança bem ativa em casa. Ele, inclusive, está gostando bastante também. Para quem tem filho, recomendo O mundo dos pequeninos - além do Totoro, é claro.
Os filmes têm encaixado super bem com o livro Sobre os ossos dos mortos, da Olga Tokarczuk - a ganhadora do último Nobel de literatura. A história traz uma discussão bem oportuna e assustadora: pode a natureza começar a se vingar de nós? Querer dar o troco por toda destruição que causamos? A personagem principal acredita fortemente nisso.
Ela é uma narradora que não costumamos encontrar sempre: é velha, excêntrica, apaixonada por astrologia e poemas de William Blake. Essas características somadas fazem com que ela seja desacreditada sempre e por quase todos.
Separei aqui um dos trechos dos quais gostei bastante:
"Tenho uma teoria. Uma coisa muito ruim aconteceu: o cerebelo não foi adequadamente conectado ao nosso cérebro. Talvez tenha sido o maior erro da nossa programação. Alguém nos criou equivocadamente. É por isso que o nosso modelo tem que ser substituído por outro. Se o cerebelo estivesse conectado com o cérebro, possuiríamos o conhecimento pleno da nossa anatomia, do que acontece dentro do nosso corpo. Ora, diríamos a nós mesmos: baixou o nível de potássio no meu sangue. A terceira vértebra cervical está com algum tipo de tensão. A pressão arterial está baixa, preciso me movimentar, e a maionese de ovos de ontem elevou muito o nível de colesterol, preciso observar o que vou comer hoje."
Gostaria muito de ter esse poder sobre meu corpo. Acho que a informação que ele passaria agora é: está extremamente preocupada em ficar doente e criando sintomas que nem existem. ¯\_(ツ)_/¯
Estou encantada com a abordagem literária da astrologia feita pela Júlia Hansen <3 A visão dela lembra muito o livro que comentei acima. É um assunto que eu adoro - no ano passado, fiz um curso de astrologia poética que mudou o modo como vejo a influência dos astros sobre nós
O site Omelete fez uma guia para todos os filmes do Studio Ghibli disponíveis na Netflix ;)
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