#108 Queria ser grande, mas desisti
Ilustração: daqui
Há algumas semanas, muita gente ficou revoltada com a lista de livros mais vendidos em 2019. Tudo porque a lista era composta, em sua grande maioria por títulos, de autoajuda. Eu, sinceramente, não me incomodo com isso. Sou do time que pensa que cada um lê o que acha mais interessante. Sem contar que o lucro vindo da venda desses livros possibilita que as editoras publiquem a tal da "alta literatura", que é linda, mas nem sempre lucrativa.
O que eu quero abordar aqui é a aversão que algumas pessoas têm a histórias de ficção. Já recebi mais de uma mensagem de amigos dizendo que não conseguem curtir livros assim, que acham até uma perda de tempo - como se tivéssemos que retirar dos livros algo que pudesse ser aplicado na vida prática.
Penso que esse raciocínio passa um pouco pelo modo como operamos hoje em dia. Estou falando da sensação de que é necessário ser produtivo o tempo todo, de que não podemos fazer as coisas simplesmente por fazer. Tudo tem que ter um propósito.
É claro que existe a leitura por obrigação - na faculdade, no trabalho -, mas, em condições normais de temperatura e pressão, acredito que devemos parar e apenas nos entreter - seja com um livro, um filme, uma exposição, um encontro com amigos.
A ficção nem sempre tem um ensinamento óbvio, uma frase de efeito. A ficção tem o dom de te ensinar coisas sobre o mundo e as relações humanas de maneira quase que disfarçada, mas extremamente eficiente. Lembro de quando li Americanah, da Chimamanda, e de como fui apresentada a temas que nunca tinha parado para refletir.
Se você tem algum pé atrás com ficção, te peço para tentar de novo. Um novo autor, um novo gênero. Quem sabe uma ficção histórica para começar?
Dito tudo isso, preciso registrar que nem só de ficção vive a minha estante. Gosto muito de ler biografias e, principalmente, ensaios - que são investigações breves sobre um determinado assunto, sem a intenção de esgotar o tema ou chegar a alguma conclusão. Deixo aqui três sugestões de ensaios:
Imunidade, de Eula Biss - vacinas e a onda de pessoas que fogem delas
O ano do pensamento mágico, de Joan Didion - sobre como lidamos com a morte de alguém querido
Diante da dor dos outros, de Susan Sontag - a normalização das imagens de desgraças
O mercado de autoconhecimento e a enorme grana que ele movimenta
A editora Dublinenses disponibilizou de graça, por tempo determinado, o audiolivro de As alegrias da Maternidade, da Buchi Emecheta - livro que está há tempos na minha lista
Topei o desafio da Tatiana Feltrin de ler uma peça de Shakespeare por mês
É difícil conciliar - as ilustrações lindas da Lara Fuke
Como se inspirar sem copiar
73 questões para Greta Gerwig
Lendo: The White Album, da Joan Didion, e Ulysses, do James Joyce
Assistindo: A segunda temporada de Sex Education (<3) e Cheer
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