#104 Queria ser grande, mas desisti
Ilustração: Jarom Vogel
Ouvindo o episódio do podcast É nóia minha sobre tribos me peguei pensando numa das coisas mais maravilhosas que a idade tem me trazido: a coragem de ser quem eu realmente sou.
O gancho dessa reflexão foi um comentário de uma das entrevistadas do podcast, a Roberta Martinelli, contando como ela odiava dançar forró, mas ia sempre com as amigas porque, né, não tinha como fugir. No fim da noite, ela chegava em casa e pensava: quando essa fase vai acabar?
Não consigo contabilizar a quantidade de vezes em que imaginei o mesmo. Quando adolescente, eu odiava ir pra balada, mas ia mesmo assim, porque, né, não ia ficar de fora dos rolês. Eu mal chegava no lugar e já ficava contando as horas pra ir embora. Era daquelas que sorria feliz quando a festa miava mais cedo.
O engraçado é que eu não falava pra ninguém. Achava que era assim, as opções de diversão eram essas e eu que precisava me adequar. Sendo assim, tentei gostar das músicas, da "obrigação" de usar salto, do cansaço que batia depois. Até em raves eu fui, meu deus. Mas nada adiantou. Assim como a Roberta Martinelli, eu chegava em casa e pensava: quando essa fase vai acabar?
Passei por essa penitência por uns bons anos até que entrei para a faculdade. Lá começou meu ensaio de libertação. Fui a algumas baladas com as novas amigas, mas logo comecei a escapar. O que eu gostava mesmo era de viajar, jantar na casa de alguém, ir num bar, ver um show.
Fui me permitindo aos poucos frequentar apenas os lugares onde eu realmente me sentia confortável. E não é que fui encontrando pessoas que queriam o mesmo que eu? Até mesmo os amigos antigos se mostraram abertos a isso, porque no fundo estava todo mundo na mesma situação: tentando se encaixar num modelo de curtição pré-estabelecido sabe-se lá por quem.
O irônico é que acabei casando com alguém que AMA sair, ficar até de manhã dançando. Apoio pra caramba as saídas dele, algumas vezes até vou junto, mas PRECISO ter um tempo em casa, curtindo meu casulo. O importante mesmo é esse respeito à essência de cada um.
Não sei quem precisa ouvir isso, mas vá assistir História de um Casamento, na Netflix. É um filme doloroso, mas muito bonito e verdadeiro. O diretor é o Noah Baumbach, que ainda não fez um filme que eu não tenha gostado. Pra quem já assistiu, vale a pena ler a resenha feita pela Juliana Cunha.
Querendo muito ver esse outro filme aqui.
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